Contam-se os poucos estudantes universitários que nunca terão ouvido falar do Professor Aureliano da Fonseca. Médico e professor, é o autor dos “Amores de Estudante”, um tango-canção composto com um colega tuno e orfeonista – Paulo Pombo (que escreveu a letra) – que o Orfeão Universitário do Porto (OUP) e a U.Porto adotaram como hino. Talvez seja daqui que nasça a forte ligação da família Adão da Fonseca à Universidade do Porto, se que o Professor tanto se orgulhava: seis filhos, 26 netos e mais de 60 bisnetos.
Aureliano da Fonseca viveu sempre como estudante, talvez por ter sabido “eternizar a ilusão de um instante”. Esteve ativo em tudo o que o ligava à U.Porto até ao dia 16 de janeiro de 2016, dia em que faleceu aos 100 anos. Indeciso entre a carreira na Marinha e a formatura na U.Porto, acaba por se matricular, em 1934, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), após a realização dos Preparatórios Médicos na Faculdade de Ciências (FCUP). Concluiu o curso em 1940, especializando-se em Dermatologia, por influência do médico e professor Villas-Boas Neto. Foi o primeiro português a ver reconhecida a sua especialização pela ordem profissional. Em 1954, começou a dar aulas na FMUP e em 1963, doutorou-se pela mesma faculdade. Exerceu medicina até perto dos 100 anos, numa carreira que andou sempre de mãos dadas com uma outra das suas paixões: o Orfeão Universitário do Porto.
Presidiu à Associação de Antigos Alunos da Universidade do Porto e, enquanto estudante, participou na reorganização do Orfeão Académico (renomeado Orfeão Académico da Universidade do Porto) e da Tuna, no seio da qual surgiu a Orquestra Universitária de Tangos.
Numa família onde quase duas dezenas de pessoas têm a U.Porto no sangue, temos representados nove “membros do Arcadão”, como se costumam intitular. Luís Adão da Fonseca é o mais velho dos seis filhos do Professor Aureliano. É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), onde foi Professor Catedrático até 2006, no Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais. Já António Adão da Fonseca (na foto) licencia-se em 1971, em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), onde foi professor até 2014, ano em que se aposentou. O mesmo percurso seguiu o seu irmão gémeo, Fernando Adão da Fonseca, que se licencia em 1972.
Anos mais tarde, António Adão da Fonseca casa-se com Teresa Pimentel Adão da Fonseca, também ela licenciada na Universidade do Porto, em Filosofia pela FLUP. Termina o curso em 1980, depois de uma interrupção, em muito, motivada pelos anos que seguiram o 25 de abril, altura em que a faculdade sofria ajustes e as notas eram “votadas pelos colegas”. Dois quatro filhos do casal, três deram continuidade ao legado da família: por um lado na engenharia e por outro na medicina. António Maria Adão da Fonseca e João Maria Adão da Fonseca são ambos licenciados pela FEUP em Engenharia Civil, o primeiro de 2000 e o segundo em 2006. Foram inclusive alunos do pai, António Adão da Fonseca, que conta ter algumas das melhores histórias desses momentos com os filhos. Já Francisco Pimentel Adão da Fonseca, porventura influenciado pelas palavras do avô, entra no curso de Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
O filho Francisco Adão da Fonseca decide perpetuar o legado do seu pai, o Professor Aureliano. Licencia-se, em 1975, em Medicina pela FMUP e especializa-se em Dermatologia, especialidade da qual é médico. A sua filha, Inês Fonseca é também ela licenciada pela FMUP, em 2001. Recorda-se da sua vida académica com uma forte presença do avô. Seja nos corredores da FMUP ou nos Festivais de Tunas que o Professor Aureliano “obrigava os netos a ir”, Inês e os primos sempre tiveram o avô muito presente nos anos de faculdade.
Também Graça Mendonça da Fonseca tem a U.Porto no sangue. Aliás, conta-nos ser “filha da U.Porto”, com o pai licenciado pela FEUP e a mãe pela FCUP, um casal que se conhece na Universidade do Porto. É mestre em Psicologia pela Faculdade de Ciências da Educação e Psicologia da Universidade do Porto (FPCEUP) em 1994.
Miguel Mendonça da Fonseca tem uma ligação próxima à U.Porto quando decide voltar a estudar. Torna-se, por isso, mestre e doutorado em Biologia, em 2001, pela FCUP. E é na sua esposa que encontramos mais um elemento, Teresa Vasconcelos da Fonseca, licenciada em História, pela FLUP, onde foi aluna do agora tio Luís, depois de se ter casado com Miguel.
Fossem quantos fossem os anos de curso, a faculdade ou a época, a verdade é que toda a família lembra a presença assídua de Aureliano da Fonseca. Talvez ele seja a inspiração desta e de outras famílias, ao ser um defensor assumido do desenvolvimento do conhecimento e do Saber. Talvez por isso nunca tenha estado parado. E talvez por isso tenha querido “ficar sempre estudante”.